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Pesquisa

Entre as décadas de 1920 e 1940, entraram progressivamente em Portugal universos sonoros e estéticos invariavelmente associados aos Estados Unidos da América, e que mais tarde viriam a configurar uma categoria musical designada por jazz. Frequentemente associados à dança e a um ideário de modernidade importado do Novo Mundo (muitas vezes via Paris), estes novos sons geraram atitudes antagónicas ora de desejo ora de repulsa, fazendo jus ao posicionamento dicotómico que caracterizou o jazz desde as suas origens.

Essas sonoridades foram geradoras de um fenómeno de "americanização" transversal ao nosso país, embora inicialmente centrado no espaço urbano, que introduziu em Portugal um universo novo onde se inscreviam as chamadas "danças modernas", como o fox-trot, o charleston, o shimmy, o one-step, o two-step, o cakewalk, novos ambientes de convivialidade como o da cultura chic, boémiaelegante, urbana, moderna, ou mesmo novos registos emocionais produzidos pela música como o excitamento, o gozo, o escândalo, o hot, o infernal, o selvagem, o esbanjamento ou a orgia bárbara.

É possível entender este fenómeno através, por um lado, da análise dos discursos veiculados pela imprensa escrita e, por outro, da observação do processo de criação de pequenos agrupamentos musicais designados genericamente por Jazzes. Os Jazzes eram compostos maioritariamente por instrumentos de sopro aos quais se associava uma bateria, configuravam-se frequentemente a partir das Bandas Filarmónicas e adoptavam um repertório de música popular destinado, sobretudo, a ambientes de baile. Estes agrupamentos transpunham para os espaços de convívio portugueses um modo de representação sonora e visual que invocava um imaginário americano.

São estas as vozes da América que constituíram, decididamente, o primeiro mensageiro para o jazz em Portugal.