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Pesquisa

Os estudos de jazz (jazz studies) constituem hoje um domínio académico emergente em Portugal à semelhança do que acontece noutros países da Europa e, sobretudo, nos EUA. Na verdade, a escolarização do jazz e a preocupação que outras disciplinas académicas têm mostrado sobre o universo expressivo a ele associado – como a sociologia, a antropologia, a etnomusicologia e os african-american studies - têm vindo a tornar cada vez mais urgente a produção de novo conhecimento associado a este género de música.

Neste sentido, e uma vez que o jazz sobreviveu durante muitos anos num espaço social de alguma “marginalidade”, múltiplos debates têm vindo a reconhecer a importância dos divulgadores – aqui entendidos como os intermediários entre os conceitos e comportamentos associados ao jazz, e o público e as instituições – na aceitação e na consolidação desta prática expressiva.

Em Portugal os divulgadores de jazz foram centrais no caminho para a inscrição deste tipo de música no panorama musical do país, tanto mais que o regime ditatorial que se instalou desde 1933 era, por princípio ideológico, extremamente hostil à sua presença. Os divulgadores, onde se incluem jornalistas, críticos de música, melómanos, organizadores de concertos e festivais, abriram caminho para o conhecimento que se foi construindo sobre jazz e desenharam o percurso que o jazz acabou por fazer até se instalar no nosso país.

Os primeiros artigos sobre jazz publicados em Portugal datam da primeira metade da década de 1920. Trata-se de crónicas e/ou artigos de opinião sobre jazz, então designada por Música Hot, Hot Music ou jazz-band, inscritas em periódicos como ABC, ABCêzinho, A Tarde, Ilustração Portuguesa, Diário de Notícias ou Diário Popular e assinados por Ferreira de Castro (1925), António Ferro (1924), Almada Negreiros (1925), Repórter X (1926) ou Triska (1926). Mas é a partir da década de 1940 que se virá a consolidar um trabalho recorrente de divulgação do jazz através da ação de Luiz Villas-Boas, Raul Calado, Francine Benoît, Manuel Guimarães, Manuel Jorge Veloso, José Duarte, Paulo Gil, e Romano Mussolini nomeadamente através dos artigos regulares que publicaram em periódicos como Arte Musical, Gazeta Musical e de Todas as Artes, Diário de Lisboa, Diário de Notícias e O Século.

De acordo com o contexto descrito, este projeto tem como objectivo geral a inauguração de uma área central para a compreensão do fenómeno do jazz em Portugal no século XX: a criação de um estudo seminal no quadro dos estudos de jazz. Constituem objectivos específicos a produção de conhecimento analítico a partir da documentação dispersa sobre a presença do jazz em Portugal no século XX, dar a conhecer o modo como o jazz se implantou no país a partir dos seus divulgadores (intermediários) e colocar Portugal no panorama internacional sobre o conhecimento associado à recepção do jazz na Europa durante o século XX.